Isto se passou em 1990 e eu estava com 18 anos, sem dinheiro no bolso e com vontade de fazer uma faculdade. O plano era simples: arranjar um emprego que ajudasse nos custos do curso de Arquitetura. Para isso reuni as minhas referências, que eram uma pasta cheia de bicos de pena e alguma cara-de-pau. O resto era chute.
Visitei e preenchi fichas de emprego em lugares que me pareciam legais. Locadora de filmes, loja de departamentos (não é legal, mas era caminho), loja de foto (putz), agência de publicidade e até numa livraria chamada Iporanga. Em todos os lugares deixei um telefone de uma vizinha meio coroa, com alguma boa vontade, mas um tanto distraída, como já vou explicar.
O telefone depois de uns dias tocou e a vizinha deu um recado um tanto truncado - disse que o Zé Preto, ou será Zé Alfredo, Zé Pedrinho? Bah! Um tal Zé-não-sei-o-quê ligou para você e disse para que o procurasse. Aí eu disse: mas daonde é este homem? Ela: deixa de ser braço-curto menino, eu, na sua idade...
A fase seguinte foi a da aceitação - agradeci a minha querida vizinha e saí ao encontro do meu futuro emprego, caminhando sem muita pressa.
Em algumas lojas eu fazia mais drama, perguntava, esperava e necas de vaga. Em outras já perguntava negando, já praguejando com a vizinha, sabendo o que viria pela frente. Deixei por último aquela livraria, a Iporanga.
Aquela livraria era simpática, me salvou de uma surra pós matinée no cine Roxy, quando corri para o fundo da loja num ato estratégico, além de me nutrir de HQs do Flash Gordon. Estava no caixa um cara meio novo, de óculos e um jeito de boa praça. Cheguei e repeti o mantra dos desempregados. Expliquei o caso do recado em marciano, arrancando um muxoxo e uma risadinha. E não é que o Luigi me deu o emprego? Falou que não precisava exatamente de mais um funcionário, mas lembrou que tinha dito algo sobre gostar de ler, que sou filho de professora e era desenhista. Começa amanhã.
Comecei, e entrei para a faculdade que só durou 1 ano para mim. Virei sócio da Iporanga e me esqueci da história da vizinha.
Num botequim uns 5 anos depois conversávamos, eu e o Luigi - outro desligado - quando vem de volta o causo da minha chegada. O Luigi: mas que história a sua, hein Zé? Por quê? Pô, você não lembra como foi a coisa toda? Falei: lembro, eu retornei à livraria meio perdido depois de procurar por todos os lados um emprego prometido não sei por quem. Então - disse ele - na sua primeira visita estava comigo no caixa o Armandinho, que foi com a tua cara e me pediu o telefone. Eu: não me lembrava... nem podia eu não o conhecia.
Pois é, o Armandinho estava à procura de um garçom para o seu bar, o ZÉPPELIM!
Parece papo de bar, e até era, mas é tudo verdade.
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Por isso você é cool,big boss
ResponderExcluirZééé!!! ótimo texto... engraçado e cheio de causos como as suas conversas entre a execução de uma obrigação e outra no dia-a-dia...
ResponderExcluirBoa sorte!!
Entre agulhas e linhas do Armarinhos do Tahan, costure mais situações e quem sabe alguma editora queira publicar... (hehe)
beijo=)
Zé, você é realmente o cara. Haviam me dito que não, mas eu peitei e falei: ele é sim.
ResponderExcluirAí, Zé, passando de livreiro pra escritor é? Assim não vale...Parabéns. Eliana Pace
ResponderExcluirEntendi...então, é tú que é o Alemão?
ResponderExcluirZé, mesmo com aquele toldinho gay, vc é o cara!!
ResponderExcluirhahahaha
abraços
Sim, sou eu. Vai uma jurubeba?
ResponderExcluirBeijunda.
Fala, Zé.
ResponderExcluirQuem diria que as confusões da vida o levariam para esse rumo bananérrimo, né não?!
Apesar de que, pensa bem, até que não seria tão ruim trabalhar num bar... rs
Beijão
Zé que sorte o tal do Armandinho não estar na livraria na hora em que você foi verificar se era dali que haviam telefonado, porque como garçom não sei se chegaria a Metre, mais de vendedor você se tornou ""O Livreiro"".
ResponderExcluirAlém de um verdadeiro ""Contador de Causos""rss
Beijão
Fala Zezim!!!
ResponderExcluirTudo bem, cara. Gostei muito dessa história, desde a primeira vez que a ouvi. É uma história realmente para se guardar nos Armirinhos do Tahan. Para a posteridade. Muito bom mesmo. Gostei do teu blog. E o site da Realejo está excelente. Parabéns!
Saudades de vocês aí.
Grande abraço.
Éder.
E!? [www.ederfogaca.blogspot.com]
zeca, parabéns pelo texto. me fez lembrar dos velhos tempos de caiçara. e que jamais marcará gols de penalti. grande abraço. marcus vinicius.
ResponderExcluirComo me tornei amigo após ser cliente do Zé....
ResponderExcluirZé tem senso de humor e refinamento que lembra Woody Allen com Groucho Marx (isto não um elogio). Mas tem tiradas que vale lembrar e até mesmo compartilhar: Faz um bom tempo, quando o Zé cuidando do caixa da Livraria Iporanga (como um bom turco), e observando os que passam pela calçada da avenida Ana Costa, me viu chegando: entrei meio sem rumo ou tesão para comprar qualquer coisa. Desabafei: "Zé, esta semana perdi meu pai..." Bom! responde ele, melhor assim do que se teu pai tivesse perdido você...Zé com esse sobrenome turco e senso de humor, você de fato só pode ser um Cristão novo ou Judeu mais novo ainda; ou seja um grande fdp (com todo respeito, é claro que não falo uma merda dessas à não ser para um grande amigo).
Sami Douek
poema litorâneo
ResponderExcluirna areia a rebentação da memória
espelho de sol , perene , vítrico
as calçadas indicam labirintos
na ondulação calma da manhã
gente caminha nas galerias
mormaço dissolvido no sorvete de limão
e a vista das ilhas , estranha geometria
sem piratas ou trilhas secretas
do aquário o verde aquático
que tinge a retina de cloro
a cidade enumera os verões
caleidoscópio de imagens perdidas
puzzles de chuvas breves
a noite cai no cais de mim
silhueta de navios de partida
No gonzaga os luminosos esquecidos
do velho Hotel , o relógio marcando 35 graus
as janelas sugando o vento quente
a calma indolente das horas
lembrar das luzes da Loft
nos janeiros de oitenta e poucos
*
caminho da bica de São Vicente
moldura antiga perto da ponte
depois retorno pra Ilha Porchat
ao pé do mar o Clube aquecendo
as luzes para a festa de roupas brancas
e colares de madeira , mormaço nebilna
a visão da faixa de areia
*
Saldanha da Gama , uma matinê
tempo estilhaçado que não volta
depois da ponta da praia o porto
ruas escuras músicas melosas
navalha à espreita alguma peça
de plínio marcos e os navios
de bandeiras estrangeiras
na madrugada o sal de partidas
e desembarques ferrugens
de passagem
zé luis , gostaria de enviar meu livro Decalques para vc , tem vários poemas que falam de Santos , se puder envie o endereço para o envio .
ResponderExcluirum dos poemas do livro
Monte Serrat
a letra de Itororó inicia a escada
traça sua geografia cortando
a vila que lembra Noel insolação
na manhã atlântica avista a capela
e o cassino desativado entre vitrais
do salão panorama de mapas
e mirantes diluídos em 360 O