terça-feira, 7 de abril de 2009

Como me tornei livreiro ou a desorientação vocacional

Isto se passou em 1990 e eu estava com 18 anos, sem dinheiro no bolso e com vontade de fazer uma faculdade. O plano era simples: arranjar um emprego que ajudasse nos custos do curso de Arquitetura. Para isso reuni as minhas referências, que eram uma pasta cheia de bicos de pena e alguma cara-de-pau. O resto era chute.

Visitei e preenchi fichas de emprego em lugares que me pareciam legais. Locadora de filmes, loja de departamentos (não é legal, mas era caminho), loja de foto (putz), agência de publicidade e até numa livraria chamada Iporanga. Em todos os lugares deixei um telefone de uma vizinha meio coroa, com alguma boa vontade, mas um tanto distraída, como já vou explicar.

O telefone depois de uns dias tocou e a vizinha deu um recado um tanto truncado - disse que o Zé Preto, ou será Zé Alfredo, Zé Pedrinho? Bah! Um tal Zé-não-sei-o-quê ligou para você e disse para que o procurasse. Aí eu disse: mas daonde é este homem? Ela: deixa de ser braço-curto menino, eu, na sua idade...

A fase seguinte foi a da aceitação - agradeci a minha querida vizinha e saí ao encontro do meu futuro emprego, caminhando sem muita pressa.

Em algumas lojas eu fazia mais drama, perguntava, esperava e necas de vaga. Em outras já perguntava negando, já praguejando com a vizinha, sabendo o que viria pela frente. Deixei por último aquela livraria, a Iporanga.

Aquela livraria era simpática, me salvou de uma surra pós matinée no cine Roxy, quando corri para o fundo da loja num ato estratégico, além de me nutrir de HQs do Flash Gordon. Estava no caixa um cara meio novo, de óculos e um jeito de boa praça. Cheguei e repeti o mantra dos desempregados. Expliquei o caso do recado em marciano, arrancando um muxoxo e uma risadinha. E não é que o Luigi me deu o emprego? Falou que não precisava exatamente de mais um funcionário, mas lembrou que tinha dito algo sobre gostar de ler, que sou filho de professora e era desenhista. Começa amanhã.

Comecei, e entrei para a faculdade que só durou 1 ano para mim. Virei sócio da Iporanga e me esqueci da história da vizinha.

Num botequim uns 5 anos depois conversávamos, eu e o Luigi - outro desligado - quando vem de volta o causo da minha chegada. O Luigi: mas que história a sua, hein Zé? Por quê? Pô, você não lembra como foi a coisa toda? Falei: lembro, eu retornei à livraria meio perdido depois de procurar por todos os lados um emprego prometido não sei por quem. Então - disse ele - na sua primeira visita estava comigo no caixa o Armandinho, que foi com a tua cara e me pediu o telefone. Eu: não me lembrava... nem podia eu não o conhecia.

Pois é, o Armandinho estava à procura de um garçom para o seu bar, o ZÉPPELIM!

Parece papo de bar, e até era, mas é tudo verdade.

14 comentários:

  1. Don Mimi de las Maresias Buenas8 de abril de 2009 às 17:18

    Por isso você é cool,big boss

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  2. Zééé!!! ótimo texto... engraçado e cheio de causos como as suas conversas entre a execução de uma obrigação e outra no dia-a-dia...
    Boa sorte!!
    Entre agulhas e linhas do Armarinhos do Tahan, costure mais situações e quem sabe alguma editora queira publicar... (hehe)
    beijo=)

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  3. Zé, você é realmente o cara. Haviam me dito que não, mas eu peitei e falei: ele é sim.

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  4. Aí, Zé, passando de livreiro pra escritor é? Assim não vale...Parabéns. Eliana Pace

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  5. Jair Freitas (psicografado)23 de abril de 2009 às 20:39

    Entendi...então, é tú que é o Alemão?

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  6. Zé, mesmo com aquele toldinho gay, vc é o cara!!
    hahahaha

    abraços

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  7. Sim, sou eu. Vai uma jurubeba?
    Beijunda.

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  8. Fala, Zé.
    Quem diria que as confusões da vida o levariam para esse rumo bananérrimo, né não?!
    Apesar de que, pensa bem, até que não seria tão ruim trabalhar num bar... rs
    Beijão

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  9. Zé que sorte o tal do Armandinho não estar na livraria na hora em que você foi verificar se era dali que haviam telefonado, porque como garçom não sei se chegaria a Metre, mais de vendedor você se tornou ""O Livreiro"".
    Além de um verdadeiro ""Contador de Causos""rss
    Beijão

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  10. Fala Zezim!!!

    Tudo bem, cara. Gostei muito dessa história, desde a primeira vez que a ouvi. É uma história realmente para se guardar nos Armirinhos do Tahan. Para a posteridade. Muito bom mesmo. Gostei do teu blog. E o site da Realejo está excelente. Parabéns!

    Saudades de vocês aí.

    Grande abraço.
    Éder.

    E!? [www.ederfogaca.blogspot.com]

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  11. zeca, parabéns pelo texto. me fez lembrar dos velhos tempos de caiçara. e que jamais marcará gols de penalti. grande abraço. marcus vinicius.

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  12. Como me tornei amigo após ser cliente do Zé....

    Zé tem senso de humor e refinamento que lembra Woody Allen com Groucho Marx (isto não um elogio). Mas tem tiradas que vale lembrar e até mesmo compartilhar: Faz um bom tempo, quando o Zé cuidando do caixa da Livraria Iporanga (como um bom turco), e observando os que passam pela calçada da avenida Ana Costa, me viu chegando: entrei meio sem rumo ou tesão para comprar qualquer coisa. Desabafei: "Zé, esta semana perdi meu pai..." Bom! responde ele, melhor assim do que se teu pai tivesse perdido você...Zé com esse sobrenome turco e senso de humor, você de fato só pode ser um Cristão novo ou Judeu mais novo ainda; ou seja um grande fdp (com todo respeito, é claro que não falo uma merda dessas à não ser para um grande amigo).


    Sami Douek

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  13. poema litorâneo

    na areia a rebentação da memória
    espelho de sol , perene , vítrico
    as calçadas indicam labirintos
    na ondulação calma da manhã
    gente caminha nas galerias
    mormaço dissolvido no sorvete de limão
    e a vista das ilhas , estranha geometria
    sem piratas ou trilhas secretas
    do aquário o verde aquático
    que tinge a retina de cloro
    a cidade enumera os verões
    caleidoscópio de imagens perdidas
    puzzles de chuvas breves
    a noite cai no cais de mim
    silhueta de navios de partida


    No gonzaga os luminosos esquecidos
    do velho Hotel , o relógio marcando 35 graus
    as janelas sugando o vento quente
    a calma indolente das horas
    lembrar das luzes da Loft
    nos janeiros de oitenta e poucos
    *
    caminho da bica de São Vicente
    moldura antiga perto da ponte
    depois retorno pra Ilha Porchat
    ao pé do mar o Clube aquecendo
    as luzes para a festa de roupas brancas
    e colares de madeira , mormaço nebilna
    a visão da faixa de areia




    *
    Saldanha da Gama , uma matinê
    tempo estilhaçado que não volta
    depois da ponta da praia o porto
    ruas escuras músicas melosas
    navalha à espreita alguma peça
    de plínio marcos e os navios
    de bandeiras estrangeiras
    na madrugada o sal de partidas
    e desembarques ferrugens
    de passagem

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  14. zé luis , gostaria de enviar meu livro Decalques para vc , tem vários poemas que falam de Santos , se puder envie o endereço para o envio .

    um dos poemas do livro

    Monte Serrat

    a letra de Itororó inicia a escada
    traça sua geografia cortando
    a vila que lembra Noel insolação
    na manhã atlântica avista a capela
    e o cassino desativado entre vitrais
    do salão panorama de mapas
    e mirantes diluídos em 360 O

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